TIC-TAC, TIC-TAC, TIC-TAC!

O mercado arrasta-se sem novos reforços, mantem-se muito parado este defeso, mas o tempo não para! Apesar de tudo, ninguém esquece que dentro de 4 dias, há que fechar o exercício económico 2022/23, há que fazer prova que não se está a fazer concorrência desleal, que não se está a gastar mais do que se tem, constituindo planteis muito acima das suas posses.

Estamos em vias de voltar a presenciar novamente batota descaradamente, ver uma comunicação às 23h do dia 30/06/2023, que algum clube “irá exercer a cláusula de 35 M€", tal como fizeram em 30/06/2015. Contas oficiais de uma SAD cotada na Bolsa e para espanto geral na última hora antes do fecho, sai um comunicado "O ATLÉTICO DE MADRID INFORMOU HOJE ESTA SOCIEDADE DE QUE IRÁ EXERCER A CLAÚSULA DE 35 M€", é este o nível de descrédito que se chegou na Liga Portuguesa! Felizmente nenhum clube voltou a copiar este péssimo exemplo, ou será que alguém anunciará em 30/06/2023 que "O ATLÉTICO COMUNICOU QUE IRÁ EXERCER A CLAÚSULA DOS 3 JOGADORES MAIS VALIOSOS DO MEU PLANTEL", pode ser que a Liga volte a aceitar estas boas intensões de última hora, isentando de aplicar qualquer sanção por concorrência desleal que efetivamente ocorreu, pois por exemplo, o Sporting nesta temporada foi obrigado a vender o Matheus Nunes e o Pedro Porro de modo a cumprir o fair-play financeiro (sendo chico-esperto utilizaria os atletas para melhorar o desempenho desportivo e depois no dia 30/06/2023 anunciaria que o Atlético comunicou que irá exercer a claúsula de 35M€), desportivamente acabou ultrapassado na classificação por um clube que não cumpriu. O FCP na próxima época usufruirá dos milhões da Champions, enquanto o Sporting que se esforçou para cumprir financeiramente, por via disso não atingiu a LC. 

Pouco tempo depois, por 4 M€ de prejuízo, a Liga Proença em 2019/20 relegou o V. Setúbal que tinha ficado em 16º lugar, mantendo-se o 17ª Portimonense na 1ª divisão. A justiça por incumprimento financeiro na Liga Portuguesa não é aplicada para todos os concorrentes, alguns clubes mesmo com prejuízos 10 vezes superiores ao do V. Setúbal não foram castigados por concorrência desleal, nem sequer uma multa receberam da Liga Proença!

Os clubes têm a responsabilidade de cumprir o fair-play financeiro da UEFA. O que está definido é que os clubes não podiam incorrer em prejuízos acumulados a 5 milhões de euros nas últimas 4 épocas. A UEFA no sentido de melhorar o controlo financeiro aprovou novos regulamentos do fair-play financeiro que limitam os gastos com salários, transferências e taxas de empresários a 70% das receitas dos clubes. O novo quadro entra em vigor a 1 de junho de 2022, mas será aplicado de forma gradual, durante três anos, de modo a dar tempo aos clubes para se adaptarem, obrigando a que a limitação de despesas fique em 90% das receitas na época 2023/24 e em 80% em 2024/25.

Em setembro de 2022, a UEFA multou o FCP em 100 mil euros e ameaçou «excluir o clube das provas da UEFA para as quais se qualificar nas próximas três temporadas, a não ser que o resultado agregado dos anos financeiros de 2019, 2020, 2021 e 2022 esteja de acordo com os requerimentos de break-even» acordados entre FC Porto e UEFA. Ora nos últimos 4 exercícios económicos, a SAD portista em 2019/20 apresentou 116 milhões negativos (como 2019/20 foi uma época de pandemia, os 116 milhões de euros de prejuízo têm de ser cortados para metade: dá, portanto, 58 milhões negativos), em 2020/21 apresentou 18,8 milhões positivos, em 2021/22 apresentou 20,8 milhões positivos e em 2022/23 no 1º semestre já apresentava um prejuízo de 9,9 milhões euros (sem alienação de passes de atletas no 2º semestre, terminará a temporada com do que mais 30 milhões de euros de prejuízo). No agregado das 4 épocas, teremos 106,4 M€ de prejuízos reais, pelo que mesmo havendo tolerância por metade do prejuízo de 2019/20, para efeitos do calculo do Fair-play financeiro teremos 48,4 M€ de prejuízo (-58+18,8+20,8-30).

Ora somadas as quatro temporadas, o resultado final será de aproximadamente 48 milhões de euros negativos, o que significa um desvio de 43 milhões em relação ao prejuízo de 5 milhões permitidos! O FCP, não respeitando o limite de 5 M€ de prejuízo no agregado de 4 temporadas como tudo aponta que não respeitará novamente, haverá sanções da UEFA!