quinta-feira, 26 de julho de 2018

Contenção de custos e a necessidade de reforços


No futebol normalmente vence mais vezes aquele clube que tem os maiores orçamentos! 
O Benfica e o F. C. Porto vencem mais vezes que o Sporting, o Guimarães ou o Braga porque normalmente suportam custos com o plantel muito maiores que esses clubes. É assim em Portugal e na generalidade dos países. Ganhar o maior orçamento acontece em Portugal, em Espanha, em França e em todo o lado. Essa é uma verdade que está comprovada estatisticamente.

O Benfica de Luis Filipe Vieira,  cansado de sucessivo endividamento para poder competir pelos titulos em Portugal (nas últimas 10 épocas o Benfica e o F. C. Porto repartiram os titulos, 5 para cada equipa), decidiu alterar um pouco o paradigna para o futebol e apostar nos jovens made in Seixal.  Nos últimos 4 anos tem tentado demonstrar que com um rigoroso controlo dos custos com o pessoal e apostando em 3 ou 4 jovens da formação por ano, é possível ser campeão sem ser o clube com os maiores Custos Com Pessoal na Liga, sem ter custos insuportáveis que possam vir a colocar o clube numa situação de incumprimento do Fair Play Financeiro. A estratégia vinha dando resultados, mas na última época o excessivo desinvestimento levou a perda do campeonato e a um desastroso desempenho na LC. Há que fazer reajustes na linha orientadora de modo a garantir o que é inegociável, manter o bom rendimento desportivo, afinal de contas é para isso que o clube existe.

Apesar do F. C. Porto ter sido o clube que incorre em mais Custos Com o Pessoal, o Benfica conseguiu ser campeão em 2014/15 e 2015/16 e em 2016/17 os custos dos 2 clubes são muito semelhantes, o que demonstra que sem os prémios pela conquista desse titulo os custos do Benfica teriam sido inferiores ao do F. C. Porto. Vencer sem ter os maiores custos é algo muito dificil de fazer no futebol, pois em príncipio, quem tem um orçamento maior escolhe primeiro os melhores jogadores e os clubes com orçamentos menores vão ficando limitados aos restantes jogadores que ainda não foram escolhidos pelos clubes mais endinheirados. 

  • Na época 2016/17, o campeão Benfica teve 74,7 M€ de Custos Com Pessoal e o F. C. Porto teve 73,3 M€ de Custo Com Pessoal. No final dessa época, o Benfica decidiu alienar os passes de 4 titulares dessa equipa campeã, sem ter feito nenhum investimento significativo em novos jogadores e o F. C. Porto, dos titulares apenas alienou o passe do André Silva (para o seu lugar no plantel fez regressar o Aboubakar), como não havia fundos para reforços fez também regressar outros emprestados como o Marega, Reyes, Ricardo Pereira e Hernani, para o lugar de dos jogadores que saíram do plantel por falta de qualidade, como Depoitre, Boly, Evandro, etc. Tudo leva a crer que na época 2017/18 a equipa que foi campeã (F. C. Porto), foi também a que suportou mais custos com o seu plantel nessa temporada. 
Ainda não são conhecidas as contas finais da época 2017/18, só podemos extrapolar com base nos custos já publicados das contas do primeiro semestre, assim sendo: 
  • O F. C. Porto no primeiro semestre desta época 2017/18 suportou mais de 38 M€ de Custo Com Pessoal e uma vez que, no 2º semestre os custos foram ainda superiores a esse montante pela incorporação no plantel em Janeiro 2018, do Waris, Paulinho, Osório e Gonçalo Paciência e o acréscimo pelos prémios do titulo de campeão alcançado em Maio/18, no final da época desportiva, o Custo Com Pessoal do F. C. Porto terá sido aproximadamente de 80 M€. Este custo serve de referência para um plantel campeão em Portugal para as próximas épocas. 
  • O Benfica no primeiro semestre 2017/18 suportou 35 M€ de Custo Com Pessoal, logo em 12 meses terá suportado aproximadamente 70 M€ de Custo Com Pessoal, no fim da época não atingiu o objectivo do titulo, mais uma demonstração que 70 M€ já é manifestamente pouco para ser campeão em Portugal. 

Terminada a época 2017/18 podemos concluir que: 
  • O F. C. Porto aumentou os Custos com o Pessoal mesmo tendo estado sob a alçada do Fair Play Financeiro na época 2017/18 e prepara-se para atacar a época 2018/19 com custos com o pessoal desejavelmente inferiores a 80 M€ para o bem do futuro do clube, mas nunca será inferior aos 73,3 M€ da época 2016/17 em que ficou em 2º classificado, por muito que a UEFA exija austeridade, pois Pinto da Costa quer é ter um bom plantel, quem vier a seguir que se desenrasque com o dinheiro que houver disponível nessa altura.
  • Já o Benfica (Luís Filipe Vieira) que tinha acreditado que seria possível revalidar o titulo de campeão, mesmo reduzindo o custo do seu plantel ao incorporar Svilar, Ruben Dias, Douglas e Seferovic nos lugares deixados vagos pelas chorudas alienações de Ederson, Lindelof, Nelson Semedo e Mitroglou, não teve sucesso nessa estrategia e pelos vistos para a época 2018/19 já interiorizou que com menos do que o último ano em que foi campeão não será possível reconquistar o campeonato em Portugal em 2018/19. Até ao momento o Benfica ainda não vendeu nenhum dos titulares de 2017/18 e em relação aos 4 lugares que ficaram carenciados após as saídas de 2016/17 (Ederson, Lindelof, Nelson Semedo e Mitroglou), pelo menos na atual época já resolver metade desses 4 problemas, ao ter adquirido o Facundo Ferreira/Nico Castillo e o Conti/Lema para a posição de PL e DC, pois são jogadores já feitos entre 23 anos e 28 anos, em relação aos outras 2 posições, decidiu procurar um jovem com caracteristicas similares ao Nelson Semedo (Ebuehi) e acredita que o Svilar/Varela um ano mais maduro ou o também jovem guarda-redes Odisseias Vlachodimos agora adquirido (24 anos com a experiência de 62 jogos nas últimas épocas como nº1 do Panathinaikos), consigam ocupar condignamente o espaço deixado vago como nº1 do Benfica com a saida do Ederson. Como a equipa do ano anterior já tem diversos jogadores jovens no seu elenco, em príncipio cada ano que passa esses jovens estarão em condições de dar melhores respostas do que deram na época passa, é essa a evolução que se espera de muitos dos jogadores da equipa (Svilar, Rúben Dias, Grimaldo, Krovinovic, Zivcovic, Cervi e Rafa são alguns exemplos). Se realmente o Benfica conseguir contratar um bom nº8 (Gabriel Pires aparentemente é a 1ª escolha do Rui Vitória) e pelo menos mais 1 reforço fisicamente bastante dotado e rápido para os corredores, então garantidamente ficará com um plantel melhor que o do ano passado.
Recentemente, o Benfica tem tido dificuldades em reforçar o seu plantel, pois continua com uma politica de muito controlo de custos, apesar de o clube vir de diversos anos de resultados económicos positivos, seguramente nunca o clube gerou tanto RLE positico como nos últimos 5 anos. Partindo do princípio que o clube continuaria com esta politica de contenção de Custos Com o Pessoal, mesmo inflacionando os custos em 3% por cada ano, teríamos um Custo com Pessoal no máximo de 90 M€ por época, no futuro próximo até a época 2021/22 e por esses valores nessa data será um clube saudável económicamente em Portugal. 

Será que o Benfica contratará ainda mais 1, 2 ou mesmo 3 jogadores esta época 2018/19?
É que na numeração do plantel, ainda estão por ocupar o nº7, 8 e 9, o que é um forte indício de que estão para entrar mais do que 1 jogador no plantel (o tal nº 8 de que se fala), aliás o próprio Rui Vitória já o disse publicamente que o plantel ainda não está fechado. A verdade é que não é facil o equilibrio entre a necessidade de reforços e a contenção de custos.


Será que o Benfica conseguirá contratar jogadores que aumentem a qualidade de plantel e manter esta politica de contenção de modo a que até 2021/22 não ultrapasse os 90 M€ de Custos Com Pessoal por época? 

3 comentários:

Manuel disse...

No montante dos custos de pessoal estão todos os atletas do clube, não apenas do futebol profissional, mas também da formação do Seixal, técnicos, as modalidades, etc. Além disso, também os custos da BTV estão incluídos nesse montante. Falo de valores consolidados. Por isso é difícil fazer comparações dos custos de pessoal entre os vários plantéis do futebol profissional, já que não está discriminados nos R&C.

A regra geral de que os plantéis mais caros garantem vitórias é uma teoria que não bate sempre certo. Essa é a teoria que o Porto tem seguido para justificar as tramóias que tem feito.
Mas isso é ignorar um coisa que na gestão de pessoal e na gestão das empresas de serviços, como é a industria do futebol, é mais importante do que tudo o resto: o know-how, a capacidade e a competência das pessoas que o gerem. Há outros factores também importantes, como a visão dos dirigentes e os projectos que iniciam e que se destacam dos outros rivais que irão ter reflexos nos resultados financeiros.

Há alguns princípios que podemos seguir, mas esse princípio, na minha opinião, não deve ser seguido às cegas neste tipo actividades.

Com a poupança de cerca de 10M anuais de juros bancários, temos a possibilidade de aumentar os custos operacionais no mesmo montante o que nos dá uma alavancagem em relação aos nossos directos rivais.

O valor do "gap" de alavancagem será bastante maior quando sabemos que os rivais vivem muito acima das suas possibilidades económicas já que apresentam custos operacionais de cerca 20M-30M anuais acima dos proveitos operacionais.
Para quem ainda não percebeu, resultados operacionais negativos têm uma consequência directa nas necessidades de tesouraria.

Estando os dois clubes intervencionados, um pelos bancos o outro pela UEFA, serão obrigado a diminuir os custos operacionais o que irá aumentar o "gap" entre os custos operacionais, que no Benfica nunca ultrapassaram os proveitos operacionais, entre o Benfica e os rivais, o que acontece todos os anos.

Acredito que o Benfica poderá chegar ao total de 90M ou 100M de custos de pessoal no curto prazo, sem apresentar resultados operacionais negativos, enquanto os outros terão de baixar para 60M ou 70M, se quiserem manter uma actividade económica controlada. Sem os proveitos da Champions.

A exceção é este ano, quando o Porto tem um aumento dos seus proveitos operacionais (+40M) vindos da Champions, mas que na minha opinião será um ano que dificilmente será repetido num futuro próximo.

Porque o Porto nos últimos 5-6 anos tem vindo a diminuir as suas capacidades financeiras e o buraco que cavou foi tão grande que teve de antecipar 100M da MEO apenas para tapar o buraco que adquiriu no último ano.

As dificuldades de tesouraria do Porto são crónicas, e têm sido agravadas, porque apresentam quase todos os anos resultados operacionais negativos gigantescos! Isso irá continuar a acontecer porque eles não sabem fazer melhor.
Mas dia menos dia irão cair na realidade, obrigados pela UEFA ou não.

Este assunto tem pano para mangas e dava para escrever um livro.

71460_5/8 disse...

O Sporting no primeiro semestre do último ano teve custos com pessoal praticamente idênticos ao Porto... E em alguns anos do tetra o Porto teve custos superiores... Pelo menos sem contar com prêmios. Portanto não é garantia de sucesso só ter custos mais elevados. Mas claro que ajuda.

philippe disse...

tudo isto é muito bonito mas sem pelo menos 2 titulos de campeão até 2022 e representação digna (tipo 1/4 de final ou sonhamos, uma 1/2 final da LC) este castelo de projecções cai de cima para baixo e... quem sabe se não teremos em 2020 outra estrutura directiva?