sexta-feira, 10 de julho de 2015

CONTAS DAS SADs: A REALIDADE DAS ÚLTIMAS 6 ÉPOCAS

AS CONTAS DAS SADs NOS ÚLTIMOS 5 ANOS E 9 MESES (de 01/07/2009 à 31/03/2015, uma vez que, ainda não são conhecidos os números finais da época à 30/06/2015).

Os adeptos estão constantemente a serem intoxicados pela CS durante o defeso, são constantes as 1ªs paginas de jornais e/ou abertura de telejornais anunciando contratações de jogadores e/ou treinadores, com salários anuais de milhões de euros. Os adeptos, mesmo aqueles conhecedores das contas publicadas dos seus clubes nas últimas épocas, com esta sucessão de noticias, ficam cada vez mais confusos quanto a real capacidade económica do seu clube.
Terá o Sporting capacidade económica para pagar ao Jorge Jesus mais do que os 4 milhões de euros, que o Benfica lhe conseguia oferecer?
Com o nível de custos actuais do plantel do F.C. Porto haverá folga orçamental para acrescentar novos elevados compromissos saláriais que se especula na CS, tais como Casillas, Drogba, Lucas Lima ou Maxi Pereira?

Será que o F. C. Porto está hoje em condições económicas de poder suportar um orçamento para o futebol bastante superior ao do Benfica, esta é a questão do momento? Não, esta é a única resposta realista, fazendo fé nos números oficiais das SADs, a não ser que nos esconderijos em que a PJ apreendeu 70 mil euros em dinheiro existem antes milhões que efetivamente não se encontram declarados nas contas oficiais.

Uma coisa é certa, para conhecermos a realidade económica dos clubes, o melhor que devemos fazer é consultar as contas oficiais comunicadas à CMVM, em vez de nos deixar manipular, pelas notícias sensacionalistas, que muitas vezes deturpam deliberadamente a realidade concreta dos clubes.

Todos sabemos que as contas anuais das SADs podem variam muito em função da alienação do passe de um jogador ocorrer em 30 Junho ou à 01 de Julho.
Veja-se o caso do F.C. Porto, que em 31/03/2015, dia do fecho do 3º trimestre 2014/15 apresentava como RLE nesses 9 meses um prejuízo de (7.887 M €) e como tal às 23:04h de 30/06/2015, dia do fecho das contas desta época, teve a necessidade de comunicar à CMVM que o Atletico de Madrid tinha informado a SAD, nesse dia, que IRIA EXERCER a cláusula do Jackson Martinez.

Se a CMVM aceitar os números dessa alienação do passe (Jackson Martinez) ainda na época 2014/15, apesar do comunicado não afirmar que o Atlético de Madrid exerceu, mas sim que ira exercer a cláusula, nesse caso o F.C. Porto conseguiria, por essa via não apresentar um resultado negativo no fecho das contas do ano desportivo que terminou em 30/06/2015.
Se o proveito resultante dessa alienação não constar das contas de 2014/15, então o RLE do F.C. Porto será novamente muito negativo, o que pode implicar sanções da UEFA ao clube no âmbito do FAIR-PLAY FINANCEIRO.

Para que a comparação dos números não fiquem distorcidos por um negócio ter sido reconhecido em 30 de Junho ou à 1 de Julho, resolvemos agregar os dados constantes das contas Anuais das últimas 6 épocas, 2009/10, 2010/11, 2011/12, 2012/13, 2013/14 e das últimas contas publicadas da época 2014/15 (referentes ao 3º trimestre), ou seja, estamos a agregar as 5 anos e 9 meses, (5 anos e 0,75 da época 2014/15 já publicados).

Neste momento em que a bola ainda não começou a rolar, podemos concentrar as nossas atenções neste campeonato económico, que mesmo sendo bem diferente do verdadeiro campeonato desportivo, nos dará uma ideia das reais condições financeiras que os clubes dispõem para competir em melhores ou piores condições do que os seus rívais pelos troféus.

Uma vez que, os recursos economicos disponibilizados pelo Sporting, nos últimos 6 campeonatos não são comparáveis aos do Benfica ou F.C. Porto, vamos apenas debruçarmos sobre as contas dos 2 clubes que tem dominado a competição nacional nos últimos anos. Vemos que nos 5 anos e 9 meses o TOTAL DOS CUSTOS OPERACIONAIS S/TRANSAÇÕES DE ATLETAS do Benfica (518.897 M €) foi muito semelhante ao do F.C. Porto (521.762 M €), o que demonstram que os recursos empregues por este foram realmente muito iguais e mesmo se analisarmos restritamente os números em termos de CUSTOS COM O PESSOAL acabaram as 2 equipas por consumir nesse período de tempo um montante não muito diferente (Benfica, 284.815 M € e F.C. Porto, 296.096 M €).



 No quadro que se segue encontramos, as últimas contas publicadas referentes ao 3º trimestre de 2014/15 e também os totais acumulados desses 5 anos e 9 meses (desde 01/07/2009 até 31/03/2015).
                               (fonte CMVM)                                                           Valores em milhares de euros

Atentem na coluna com a cor amarela, que contêm as diferenças entre as 2 equipas, no acumulado dos últimos 5 anos e 9 meses contabilizados.
Nas últimas 6 épocas, daquilo que é conhecido até ao momento, o Benfica teve um RLE acumulado negativo de (20.610 M €) enquanto que o F.C. Porto teve um RLE acumulado negativo ainda pior de (63.378 M €). Manter essa logica de negócio não é viavél económicamente para estes 2 clubes nacionais de maior sucesso desportivo.
Os adeptos sabem que a mudança é obrigatória, resta saber se será assumida de uma forma consciente ou imposta forçosamente.

Constatamos que em termos de Resultados económicos, ambas as equipas apresentaram nesse período de tempo, um resultado negativo acumulado, sendo que o F.C. Porto perdeu mais (42.768 M €) do que o Benfica. É uma grande diferença entre 2 equipas, que de 2009/10 à 2014/15 ganharam cada uma delas 3 campeonatos. Seguramente, o F.C. Porto iniciará a época 2015/16 financeiramente em muito piores condições que o Benfica, quando comparamos com as condições que as 2 equipas tinham no inicio da época 2009/10.
Para se ter uma ideia, na época 2008/09 o F.C. Porto (47.543 M €) em CUSTOS COM O PESSOAL conseguiu mesmo consumindo nesta rubrica mais 10.404 M € do que o Benfica (37.129 M €) numa só época, logo conseguiu construir um plantel mais capaz na luta pelo titulo nacional e ganhou-o. Isso ao mesmo obtendo um RLE nessa época muito melhor ao do Benfica. É evidente que nessa altura havia uma grande diferença económica entre os plantéis dos 2 clubes, coisa que não se tem verificado nos últimos 5 anos e 9 meses, em que o F.C. Porto no total desse período, apenas conseguiu gastar mais 11.281 M € que o Benfica em CUSTOS COM O PESSOAL, ou seja, estamos a falar de uma diferença média de aproximadamente 2 milhões de euros por época. Dificilmente poderemos voltar aos tempos em que o F.C. Porto conseguiria suportar orçamentos muitos superiores ao que o Benfica consegue sustentar para o futebol, até poque nas últimas 6 épocas em média, o Benfica conseguiu gerar por época aproximadamente mais 12 milhões de euros, do que o F.C. Porto em PROVEITOS OPERACIONAIS SEM RESULTADOS COM TRANSAÇÕES DE ATLETAS (em 6 épocas, total acumulado de 511.368 M € para o Benfica e 442.005 M € para o F.C. Porto).


Estes foram os números oficiais das épocas 2009/10, 2010/11, 2011/12, 2012/13 e 2013/14.
                                                    (fonte CMVM)                                       Valores em milhares de euros

 


Notas principais:
  • O total dos PROVEITOS OPERACIONAIS sem as transações dos passes de atletas nesses 5 anos e 9 meses foram de 511.368 M € no Benfica e de 442.005 M € no F.C. Porto, ou seja, o Benfica conseguiu gerar mais 69.363 M € que o F. C. Porto em receitas da sua atividade normal. Atendendo que neste espaço de tempo o rendimento desportivo destes dois clubes foi muito semelhante (3 campeonatos para cada uma das equipas), torna-se evidente que o Benfica é o clube/marca que gera mais receitas desportivas em Portugal.       Será que isso lhe permitiu construir planteis mais caros? Não, está é a resposta!
  • Nesses 5 anos e 9 meses, consultando os dados oficiais, o CUSTO COM O PESSOAL acumulado foi de (284.815 M €) no Benfica e de (296.096 M €) no F.C. Porto, ou seja, nas últimas 6 épocas em que os dois clubes repartiram irmamente os titulos, conquistando 3 campeonatos cada uma das equipas, o F. C. Porto incorreu em mais (11.281 M €) de CUSTO COM O PESSOAL do que o Benfica. Estas 2 SADs ao longo desse tempo tem implementado um modelo de negócio que contempla a aquisição de jovens atletas para  potenciar e posteriormente transacionar os passes desses atletas. Dai que nesse período de 6 épocas, o Benfica tenha obtido PROVEITOS COM TRANSAÇÕES DE ATLETAS de 263.050 M € e suportado (181.641 M €) em CUSTOS COM AMORTIZAÇÕES DE PASSES DE ATLETAS, acabou obtendo um resultado positivo de 81.409 M € de RESULTADOS COM TRANSAÇÕES DE ATLETAS, enquanto que o F.C. Porto teve no mesmo período, um resultado positivo de 74.115 M € de RESULTADOS COM TRANSAÇÕES DE ATLETAS, em virtude de ter obtido PROVEITOS COM TRANSAÇÕES DE ATLETAS de 243.066 M € e suportado (168.951 M €) em  CUSTOS COM AMORTIZAÇÕES DE PASSES DE ATLETAS. 
  • Assim, nestes últimos 5 anos e 9 meses, vemos que o Benfica obteve RESULTADOS OPERACIONAIS INCLUÍNDO AS TRANSAÇÕES DOS PASSES DE ATLETAS superior ao do F.C. Porto em 79.522 M €. A realidade traduzida em números demonstram que a longo prazo existe uma grande diferença nos resultados operacionais dos 2 clubes.
  • O nível de endividamento da SAD do Benfica ao longo dos últimos anos tem sido sistematicamente superior ao do F.C. Porto. Tal facto também resulta de somente está época as contas do F.C. Porto SAD incorporarem o estádio. Obviamente, os juros suportados com o financiamento do Estádio da Luz e no Centro de Treino do Seixal, só por si fazem com que os encargos financeiros refletidos nas contas do Benfica SAD sejam maiores que os custos refletidos nas contas do F.C. Porto SAD, uma vez que neste caso não estão incluidos custos financeiros com o Centro de treinos do Olival, uma vez que esse investimento foi da responsabilidade da Câmara Municipal de Gaia. Assim, vemos que em 5 anos e 9 meses, o Benfica, no que toca a RESULTADOS FINANCEIROS, suportou mais (44.129 M €) de CUSTOS FINANCEIROS do que o F.C. Porto. Estamos a falar de uma diferença de aproximadamente, 8 milhões € a mais por época, que o Benfica tem de entregar aos Bancos, em comparação com o F.C. Porto. Como este defeso demonstra, ao contrário do F.C. Porto o Benfica atualmente está a envidar esforços, no sentido de reduzir o seu nível de endividamento bancário, de modo a poder libertar mais meios financeiros no futuro para os aplicar diretamente no seu plantel aumentando o CUSTO COM O PESSOAL, em vez de estarem alocados ao cumprimento das obrigações bancárias. Concretizada essa redução dos custos financeiros, no futuro o clube poderá investir esses 8 milhões de euros nos salários, por exemplo de 2 grandes atletas, daqueles que custam anualmente 4 millhões de euros cada, ou num só atleta que custe 4 milhões euros em salários, amortizando também o seu passe em 4 milhões euros por ano.  As hipoteses de conseguir manter nas suas fileiras os melhores jogadores sem comprometer a sua sustentabilidade aumentariam significativa, com essa folga orçamental.
  • No Benfica os CUSTOS OPERACIONAIS representaram 101,5% dos seus PROVEITOS OPERACIONAIS, denota realmente uma gestão sustentada, em que os investimentos que são feitos em Jogadores, o são no sentido de gerar RESULTADOS POSITIVOS COM TRANSAÇÕES DE ATLETAS (que representam 15,9% dos PROVEITOS OPERACIONAIS) suportando assim grande parte dos RESULTADOS FINANCEIROS NEGATIVOS da sociedade (que representam 18,7% dos PROVEITOS OPERACIONAIS). No Benfica nestes 5 anos e 9 meses analisados, o RESULTADO LIQUIDO DO EXERCÍCIO (RLE) acumulado demonstra que o clube perde anualmente 4% dos total dos seus PROVEITOS OPERACIONAIS. Em média perder 4% do total dos Proveitos operacionais em cada época, não é algo que abone em favor de uma adminstração, mesmo atendendo que as Sociedades Anónimas Desportivas, por norma não são sociedades, que apresentem resultados positivos ou em que o investidor tipo espere pela distribuição de divedendos resultantes de exercícios económicos positivos, ano após ano.
  • No F.C. Porto os CUSTOS OPERACIONAIS representam 118% dos PROVEITOS OPERACIONAIS, estes 18% de custos em excesso, acrescidos aos RESULTADOS FINANCEIROS NEGATIVOS (que representam 11,7% dos PROVEITOS OPERACIONAIS), o que totaliza 29,7% valor que está muito longe de ser equilibrado conveniente pelos RESULTADOS COM TRANSAÇÕES DE ATLETAS POSITIVOS (que representam 16,8% dos PROVEITOS OPERACIONAIS). No F.C. Porto nestes 5 anos e 9 meses analisados, o RESULTADO LIQUIDO DO EXERCÍCIO (RLE) acumulado demonstra que o clube perdeu 14,3% do total dos seus PROVEITOS OPERACIONAIS. Em média perder 14,3% do total dos Proveitos operacionais por época, não é de todo, algo que abone em favor de qualquer adminstração.


As equipas que investem mais normalmente contrõem melhores plantéis. Poder financeiro não garante titulos mas seguramente é uma garantia de maior poder desportivo.
O F.C. Porto nos últimos anos, mesmo não sendo capaz de gerar o mesmo nível de receitas arrecadadas pelo Benfica, tem conseguido manter uma tradição que nas últimas décadas lhe garantiu bons planteis, que é o de construir os planteis mais dispendiosos de cada época desportiva.
Até quando será possível manter esse tipo de gestão de risco, com estas perdas acumuladas?
Continuará o Benfica a acompanhar esse nível de investimento, reconhecendo assim, que no negócio futebol, o mais importante é o sucesso desportivo, desde que se controle os riscos para não endividar o clube ao ponto de lhe provocar no futuro um colapso financeiro.

1 comentário:

Manuel disse...

É sempre interessante estas análises mas em virtude da comparação compreender 6 anos é uma comparação muito estática.
Mais interessante, na minha opinião, é mostrar tendências ("trends") que são comparações mais dinâmicas e que poderão mostrar melhor o desenvolvimento futuro das respectivas SAD´s, já que o Benfica atravessou um período de recuperação que está agora a terminar, o que não aconteceu com o Porto.
Para isso compara-se ano a ano mas apenas os últimos 3-4 anos. Aí vê-se qual tem sido a tendência não só dos custos como dos proveitos.

1. Verifica-se que o Benfica tem vindo a diminuir o seu passivo assim como os custos financeiros. Implicação directa na libertação de meios e na rentabilidade do negócio.
2. O Porto, ao contrário, tem vindo a aumentar o seu passivo assim como os custos financeiros.
3. O Benfica ultrapassou o Porto em volume de negócios, mantendo os custos operacionais estáveis, isto é, os resultados operacionais estão no "break even". Este "break even" indica também a rentabilidade do negócio, numa hierarquia de resultados, um rácio mais condizente com a "aferição" da qualidade da gestão.
4. Ao contrário, o Porto que tem aumentado os resultados operacionais negativos, mostra que não consegue atingir o "break even", não consegue obter proveitos operacionais que cubram os custos operacionais. Isto mostra uma nítida incapacidade ou falta de vontade para controlar os custos operacionais. A consequência directa são as dificuldades crónicas de cash flow, incapacidade de libertação de meios, ano após ano, estando dependente cada vez mais das mais valias das vendas de jogadores.
Esta dependência tem consequências directas, em primeiro lugar, no saber comprar bem (scouting, negociação) para depois conseguir mais valias e, em segundo lugar, saber vender o que por sua vez depende cada vez mais do desempenho da equipa profissional, por um lado, por outro na qualidade da negociação das vendas (empresários).
5. Enquanto o Benfica apresenta uma tendência crescente de estabilidade e diminuição do risco do negócio o Porto apresenta dificuldades cada vez maiores de estabilizar aumentando o risco do negócio e o próprio desempenho futuro do clube que, por via disso, tem vindo a diminuir os investimentos nas modalidades ditas amadora encaminhando os recursos cada vez menores para a equipa de futebol profissional.

Muita haveria a dizer sobre as diferenças nas estratégias dos clubes, visões da gestão, capacidade de criar estruturas estáveis que garanta o futuro dos clubes (infra estruturas, formação, outras fontes de rendimento, TVs), etc.